Há quem diga que trata-se de bons modos, de ser cortês. Na real, há quem diga tanta coisa…
Afinal, o que realmente faz você se mover?
Faz tempo que resolveram testar alguns limites. Faz tempo que o poder seduziu e danificou a mente de uns e outros – outras também. Bocas avermelhadas com seus CHANEL expelem ácidas palavras enquanto reivindicam valores como se fosse tangíveis a gente dessa estirpe. Gente que insiste, persiste, goza estridentemente ao explorar e oprimir outrem. Gente que no cair das máscaras recorre às redes sociais; foca no melhor ângulo; borra um pouco a maquiagem ou somente bagunça um pouco o cabelo… agora aquela cara de chorão/chorona e grava meus mais puros e verdadeiros sentimentos. Coisa estranha, não?
Passa na TV, ecoa pelas redes de streamming, choca tão pouco o flagrante das câmeras de segurança que escancara pauladas e golpes, covardemente, dados por um bando dessa gente “de horror” a um homem negro indefeso, pasmem, que fora cobrar desses uma grana devida. O que espanta mesmo é pescar no noticiário do dia seguinte que tão pouca gente desse Brasil da diáspora africana, desse Brasil de maioria autodeclarada negra que algumas centenas foram às ruas reclamar por justiça e pedir um basta a essa matança racista.
A morte de George Floyd parece ter nos impactado mais. Sem dúvida uma tragédia em uma cultura que cultua as armas e é explicitamente racista em sua força policial. Mas por aqui é diferente? Desde quando?
Há tempos Abdias Nascimento apontava que no Brasil não existe democracia racial. Essa narrativa vai e vem, como se nós, pessoas negras, estivéssemos no grade Éden. Falam até de racismo reverso. Oh, gente! Que gente canalha e tão mal informada desfilando de intelectual! Gente que não sabe o bê-a-ba das questões etnico-raciais.
Respirando um pouco para manter o foco…
Essa “gente bacana” que não se revela, não se manifesta. Gente que precisa preservar seus contratos, gente que acredita que dá para administrar a plateia de loucos e enlouquecidos. Essa gente que não se mexe, que não se levanta. Essa gente, minha gente, é gente da mesma laia – sinto muito em dizer. De geração em geração ouvi muito em casa: “quem se junta com porcos, farelos come”. “Se um nazista fala e dez pessoas estão a escutar à mesa, são onze nazistas”. Qual a dificuldade em se compreender isto?
Antes de encerrar este que já fora interrompido algumas vezes, gostaria de dizer que sou cético em relação às mudanças significativas. Não acontecerão em meu tempo de vida. Nem por isso deixarei de estar engajado nessas lutas e disputas. Mas encarando os dedos apontados contra mim posso dizer que não apenas luto como instruo outros e outras a lutarem. Sem paus, sem arminhas, sem Glocks nem AKs, sem esse ódio dessa gente que saliva e goza com o sangue jorrado de corpos negros ao chão. Sem essa hipocrisia que silencia pela conveniência.
Estamos nessa luta, eu e tantas outras pessoas, muitas que lutaram e perderam suas vidas para que pudéssemos avançar algumas trincheiras, outra que seguem estrategicamente construindo pontes, protegendo os seus e as suas em seus rompantes de ira, de raiva, de indignação. Pois tudo que essa gente metida a branca, tudo gente latina latindo feito vira-lata quer é encontrar mais uma vítima distraída, sozinha, desavisada.
Como disse Sueli Carneiro, “não sou nem de direita nem de esquerda, sou negra”.
Por hoje fico por aqui. Comentem se assim desejarem. Ampliem esse diálogo. O convite está feito.